terça-feira, 19 de abril de 2011

Indio

Enquanto no mundo físico comemora-se o dia do índio, aqui, sob a frondosa Teca, mora um mito do índio das américas.
Ele está sempre reverenciando a velha árvore e sua sombra magnífica. Todos os pássaros coloridos tem medo dos índios e quando eu era vivo eu não gostava de índio porque eles usam as penas dos pássaros em sua roupa.
Procurei um ser de luz, muito alto, cujo rosto não pode ser visto pois sua luz é como um farol ligado e, como me disseram aqui é o guarda da biblioteca.
-- Senhor! O senhor é o guarda?
-- Sou o guarda, curador, protetor e gestor daqui.
-- Pode me dizer o que faz aquele índio aqui, já que aqui é um museu vivo de mitos e lendas?
-- Pois ele é o mito dos povos indígenas das américas.
-- Ah! Eu tenho medo que ele pegue minhas penas pra fazer cocar.
-- Não, criatura, ele vive pela reverência à Natureza Mãe e sua figura ecoa nas palavras de todas as línguas indígenas, povoando a imaginação dos índios que estão na face da Terra com histórias de glória e não vai pegar nada seu.
-- Por que ele está alí, ora alegre, ora triste, às vezes cantando baixinho?
-- Cada vez que um índio fala com orgulho das coisas próprias dos índios, ou declara seu amor à Natureza, ele fica alegre. Quando os índios caem em vícios dos brancos, pegam doenças dos brancos e morrem, sofrendo, ele chora.
-- Como quando aqueles estudantes colocaram fogo no índio pataxó, em Brasília?
-- Sim, aquele dia foi um dia de grande dor para o Mito dos Indígenas das Américas, ele sofreu as dores das queimaduras, chorou alto e gritou "não!" muitas vezes.
-- E quando os humanos brancos da américa do norte fizeram guerra contra os índios de lá?
-- Ah, foram tempos difíceis por tanta matança e preconceito. O que a guerra não fez as doenças e o álcool acabaram destruindo. Mas algumas nações sobreviveram e mantiveram suas crenças.
-- E no Brasil, de onde eu vim, eles que eram os donos das terras brasileiras foram expulsos e mortos.
-- Sim, a história dos povos indígenas é muito marcada por desrespeito e saiba, passarinho, que eles não se consideravam donos das terras, só achavam que tudo o que havia era concedido pela Natureza para eles usarem, mas não eram donos, como pensam os humanos brancos.
-- Olhe, ele parece estar em transe.
-- Está! Sempre fica assim quando sua alma é convidada para as festas que os índios viventes estão fazendo alguma festa ou ritual e pedem a sua presença.
-- E ele vai?
-- Vai, em espírito. Então, ele se une às almas de todos os presentes e eles sentem a sua presença e ficam agradecidos em sua fé.
-- Que bonito.
-- Sim, os índios respeitam e amam seus antepassados e até aos humanos brancos que os defenderam e os ajudaram.
-- Como o Villas Boas, no Brasil?
-- Sim, veja o filme.
-- Vou ver! Obrigado seu guarda!
-- (Rindo) De nada!




Nota do Ding:

Principais etnias indígenas brasileiras na atualidade e população estimada

Ticuna (35.000), Guarani (30.000), Caiagangue (25.000), Macuxi (20.000), Terena (16.000), Guajajara (14.000), Xavante (12.000), Ianomâmi (12.000), Pataxó (9.700), Potiguara (7.700).
Fonte: Funai (Fundação Nacional do Índio).

sexta-feira, 15 de abril de 2011

As Confidências de um Inconfidente

Aqui o céu tá sempre azul, o Sol brilha mas não esquenta demais, isso faz muito bem às penas novas, que faiscam como as asas das borboletas.
Voei de perto de um grupo de humanos até a biblioteca. A grande árvore estava vazia, só tinha uma figura humana refestelada na sombra a mastigar um talinho de capim.
Como aqui não se tem medo de nada, pois nada pode nos fazer mal, pousei num ramo da velha Teca e fiquei observando o pensador, logo ali embaixo.
Foi quando ele olhou pra cima e disse:
-- Ei daí, passarinho azul, que não me cagues a farda limpa.
Isso despertou minha atenção pra sua roupa de militar, que não estava tão limpa assim, para aumentar minha estranheza: O que faria alí um humano?
Desci pra averiguar e respondi.
-- Quem é você, humano? Por que está de farda?
-- Não sou humano, sou só um mito. A alma humana que habitou um corpo à imagem e semelhança deste, já se foi deste lugar faz tempo! A farda é minha roupa de alferes.
-- Mito? Assim, tão humano?
-- É, passarinho, meu nome é Tiradentes
-- Kikiki! Ainda bem que passarinho não tem dente
-- Mas é só uma alcunha, o homem que me deu origem ganhou esse apelido porque aliviava as dores dos seus conterrâneos arrancando os dentes doentes.
-- Então tem muito banguela lá de onde você veio.
-- Na verdade todos eles já morreram e alguns já viveram de novo.
-- Por que?
-- Porque faz muito, mas muito tempo que o Tiradentes tirava dentes.
-- E você, o que faz agora?
-- Eu repouso na Glória de Herói da nação. Meu nome está no livro do Panteão da Pátria e da Liberdade.
-- Uau! Então além de mito você é herói?
-- Bem, eu sou o mito do herói. Por isso posso estar aqui na biblioteca.
-- E o que o herói fez de tão heroico?
-- Ele assumiu a verdade, inocentando seus companheiros e evitando que eles fossem assassinados.
-- E que verdade é essa?
-- É a Inconfidência Mineira, um movimento que quase deu certo, não fosse alguns homens o trairem.
-- Ah! Não se pode confiar nos humanos. Sempre dizem isso aqui.
-- Nunca! Mas eles foram perdoados pelo Tiradentes.
-- Então mataram ele?
-- Mataram a forca. Penduraram ele na ponta de uma corda pelo pescoço, até morrer.
-- Nossa! Doeu?
-- Não sei, acho que nessa hora escurece tudo e não se sente mais nada.
-- É bom ser herói?
-- Bem, quando se é lembrado sim, dá um sentimento de que a coisa certa foi feita.
-- E quando se está fazendo, sabe que é a coisa certa?
-- A essa pergunta não sei responder, passarinho, mas que coisa, hein?
-- Kikiki! Eu tenho pena mas não tenho dó!
-- To vendo!
-- E o que o herói fez é sempre lembrado?
-- Não, só as professoras, essas heroinas, é que mostram para as crianças que os atos do herói foram importantes, mas não mudou muita coisa, à época, talvez nem hoje.
-- Como assim?
-- Hoje o povo continua sendo explorado com os impostos impostores, mas a conjuração mineira só aconteceu porque Portugal não aceitava que se mandasse menos ouro.
-- Mas todos perderam.
-- Nada se perde, tudo se transforma, em se tratando de ações visando libertar o povo da tirania.
-- Se transformou em que?
-- Em um orgulho de ser mineiro, por exemplo.
-- Transcendeu!
-- Nossa passarinho, onde você aprendeu essa palavra difícil?
-- Kikiki! Foi um humano que disse que eu transcendi.
-- Ah! Mas, voltando à conjuração, o trabalho de Tiradentes e seus pares foi considerado o primeiro passo para a Democracia, pois se queria implantar esse sistema nas Minas Gerais.
--Interessante. Mas eu tenho uma curiosidade especial sobre Tiradentes.
-- Diga lá!
-- O que os humanos gritavam quando Tiradentes tirava um dente?
-- Uaaaaai! Rerere!
-- Kikiki!


terça-feira, 5 de abril de 2011

A fada do trevo

Depois de ver Knut, feliz, rolar relva abaixo, apareceram uns cãezinhos e ficaram todos brincando como fazem os cães e os ursos.
Pousei num galho de uma árvore e fiquei contemplando a beleza deste mundo "estrelado".
-- Oi Ding! (Ouvi uma vozinha doce vindo de baixo de onde eu estava.)
-- Ding! Ding! Ding! Ding! (Chamou de novo)
-- Quem me chama, Sininho?
-- Não, euzinha aqui, ó!
Era um trevo de quatro folhas!
-- Nossa, Trevinho, não sabia que você era do gênero feminino.
-- Não, eu sou uma fadinha, seu bobo!
-- Fada de Trevo, eu nunca vi, essa é novidade pra mim.
-- Pois é, mas tem, somos nós que damos sorte e não os trevos de quatro folhas.
-- Ah! é?
-- É. Diz a lenda que por ser raro o trevo de quatro folhas se transformou num poderoso amuleto e os humanos acreditam muito em poderes que não compreendem.
-- Aliás, acreditam demais em muitas coisas que não conseguem entender.
-- Pois é, isso tem história.
-- Adoro histórias, conte!
-- Tipo assim, os Druidas lá pelos anos 300 D.C. acreditavam que quem possuisse um trevo de quatro folhas poderia absorver os poderes da floresta e a sorte dos deuses, e, com isso, prosperidade.
-- Druidas, o que é isso?
-- Eram humanos que viveram onde hoje é a Inglaterra, naquela época. Havia mulheres também, chamadas druidesas. Na sociedade Celta eles eram responsáveis pelo ensino, eram professores e também advogados e filósofos.
-- Eu sempre achei que Celta era o nome de um carro.
-- Sim, mas é que os humanos deram a esse carro o nome dessa sociedade que vivia nesse lugar.
-- Ah! Mas, fale mais dos druidas!
-- Então, eles pertenciam a classes: os Filid eram os intermediários entre os celtas e os deuses, era a mais alta classe de druidas, o famoso Mago Merlin era um Druida Filid; os juizes, chamados de Brithen, eram os guardiães das leis do lugar e resolviam as questões entre os humanos de lá.
-- Ah! Já ouvi falar desse tal de Merlin.
-- Então, tinha outras quatro classes de druidas, os médicos, chamados de Liang; os repórteres, chamados de Sencha...
-- Uai, já tinha jornal naquela época?
-- Não, bobinho, eles percorriam as aldeias e voltavam com as notícias do que estava acontecendo, tudo era transmitido oralmente por outra classe, os contadores da história, que eram chamados de Druidas Scelaige, tudo era guardado na memória e como você, os celtas adoravam histórias, daí surgiam muitas lendas.
-- Fadas são lendas também! kikiki
-- São não, passarinho, fadas existem de verdade, nossa evolução é separada do resto.
-- Ah, então como a gente tá aqui conversando?
-- Porque as fadas só podem ser vistas por quem tem o coração puro, como as crianças.
-- Ah tá!
-- Então, como eu ia dizendo, ainda tinha mais uma classe de druidas, que eram os poetas, esses é que mantinham vivas as tradições celtas.
-- Puxa, quanta gente!
-- Humanos! Ding. Tem até histórias de que os Druidas praticavam canibalismo, mas acho que isso era invenção dos romanos. Acho que é porque eles tinham muitos conhecimentos de astronomia e ainda hoje os humanos tentam desvendar os mistérios celtas.
-- E o trevo?
-- Ah, é! Então, os trevos eram presenteados como votos de saúde, fortuna e prosperidade e quando se colhia um trevo nasciam outros seis no lugar. Diz a tradição.
-- Puxa, que praga! kikiki
-- Bem que dizem que você faz comentários mordazes, hein?
-- Eu tenho pena mas não tenho dó! kikiki
-- Sei, moleque!
-- E então, fale mais que eu to gostando.
-- É, tipo assim , cada uma das quatro folhas do trevo tem um significado, esperança, fé, amor e sorte. Além disso representam um ciclo completo, as quatro estações do ano, as quatro fases da lua e os quatro elementos da Natureza: terra, água, fogo e ar.
-- Nossa! Quanta coisa!
-- Pois é, Ding, mas sabe o que eu acho, que isso tudo é invenção dos humanos.
-- É?
-- Deve ser, pois não tem até uma marchinha de carnaval com o nome de trevo de quatro folhas?
-- Nossa! Até isso! Mas a letra é bonitinha.
-- Então vamos cantar!
E ficamos a cantarolar e a rir das coisas dos humanos, eu e a fadinha do trevo de quatro folhas.

(Clique no link pra ouvir a marchinha)