segunda-feira, 16 de maio de 2011

A AULA



O Dirigente dos passarinhos daqui é um mocho velho, um tipo de coruja grande que tem penas pontudas que parecem orelhas. Isso significa que ele está sempre atento ao que fazemos aqui e de vez em quando reúne a passarada e outras aves para uma aula.
Distante um voo pensamento fica uma construção redonda onde os humanos tem aulas, oferecidas por humanos mais experientes.
Fomos para lá, em bando.
O Mocho falou: Atenção todos, vamos assistir a uma parte da aula dos humanos, não quero ouvir um pio sequer!
Os humanos foram chegando e sentando em bancos que formavam círculos concêntricos, nós aves nos encarapitamos no muro, já que a construção é aberta, sem janelas e tem um muro baixo em toda a sua volta.
Depois de uma oração feita em grupo, os humanos ficaram quietos por um tempão, como se estivessem recebendo os benefícios dela. Tinha uma luz azul em toda a volta da sala, dentro e fora, muito bonita, como se fosse uma nuvem azul, mas transparente.
Olhei em volta e vi que todos estavam quietos, até os patos e os marrecos, geralmente muito barulhentos.
Nenhum pio! A ordem do nosso dirigente estava sendo cumprida

O professor começou a falar:
"Tudo é uma só substância da qual tudo foi criado e pela qual toda vida se sustém. Tudo tem vida e não há ponto algum onde não exista a vida. Toda coisa tem forma corpórea, através da qual o Espírito e a Vida tem que se expressar. Algumas formas são visíveis e outras invisíveis, mas todas são corpóreas."
"A substância mental está em todo lugar. Podemos considerá-la como se fora a parte mais elevada da energia, assim como a matéria é face mais grosseira da energia ou substância mental. Da mente emanou a energia e da energia, a matéria."
"As diferenças são:
1. Matéria... É o que usamos para vestir-nos.
2. Energia... É o que usamos para acionar e obrar.
3. Mente... É o que usamos para pensar.
4. Toda mente está em contato com toda outra mente e com a Mente Universal, da qual todas as mentes são partes.
5. O Universo é uma substância pensante.
6. O pensamento pode variar como varia a forma corpórea, desde o átomo até o sol.
7. A forma de pensamento mais perfeita de que temos conhecimento é a do homem.
Logo: Hoje somos o que temos pensado sempre."

Olhei para um sanhaço que estava com os olhos fixos no professor e o bico entreaberto, quase babando e falei:
-- Num tendi nada!
-- Shhhhh! Fez o Mocho. Depois, fez o sinal que já tínhamos combinado e fomos todos voando para debaixo de uma árvore.
Lá, ele disse:
-- Ding! Eu falei nenhum pio e você piou! Por isso, hoje todos só vão ficar com isso o que foi dado.
-- Mas eu não entendi mesmo, repliquei.
-- Não importa! Às vezes, ouvimos ou presenciamos coisas que não entendemos e, mais tarde, isso vai ter um significado para nós.
-- Hoje, continuou o Mocho, pigarreando, vimos um pouco da aula dos humanos, talvez um dia vocês venham a entender isso, talvez na forma de uma lembrança, ou de um pensamento.
-- O que é pensamento? Perguntou um papagaio.
-- É a ação da energia através de um instrumento que nós, animais, ainda não temos desenvolvido totalmente, nós estamos desenvolvendo as emoções, mas uma grande parte de nós, aqui presentes, estivemos envolvidos pela energia mais elevada que é a substância mental quando interagimos com os humanos. Respondeu o Mocho.
-- Não entendi nada! Falei, de novo.
-- Não importa, como eu disse. Um dia tudo isso vai voltar quando você desenvolver o instrumento necessário para responder a esse grau de energia. Respondeu o Mocho.
-- Veja bem, continuou. Quando você quer voar aqui, de um ponto ao outro, o que faz?
-- Força! Respondi
-- Sim, mas aaaaantes disso?
-- Não sei, dá uma vontade de estar lá para onde eu quero ir voando. Respondi
-- Isso! Isso é um pensamento na sua forma mais primitiva. Isso é tudo o que você pode fazer agora, mas da próxima vez, tente saber, ter consciência do que está fazendo.
-- Como o Fernão Capelo Gaivota?
-- Sim, essa criação fantástica de um ser humano explica bem quando um ser começa a evoluir, deixar de buscar apenas a satisfação material das suas necessidades básicas, comida, por exemplo e começa a descobrir que voa, que pode voar e isso lhe dará condições de juntar substância mental.
-- Nossa! Exclamaram alguns, outros só ficaram olhando.
-- Como é essa história, velho Mocho? Perguntou um pica-pau.
-- Eu vou ler pra vocês, deixa eu pegar meus óculos e o livro.

E ficamos todos embevecidos com a leitura da história.
Eu, que já sabia um pouco do livro, fiquei distraído, lembrando das palavras do professor humano e, de vez em quando soltava sem querer, um "não entendi nada"
-- Não entendeu o que? Perguntava o Mocho enquanto dezenas de olhinhos viravam pra mim com reprovação.
-- Não...continue, por favor?! Eu dizia todas as vezes enquanto sorria por dentro...
Eu tenho pena, mas não tenho dó! kikiki!

2 comentários:

Anônimo disse...

Que delicadeza! Me parece que os animais, agindo por instinto, acertam mais do que nós, que pensamos tanto, tanto e fazemos a coisa errada.
Ismael, adoro essas coisas que nos ajudam a elevar o pensamento, num mundo cheio de notícias negativas. Tem um verso do "Morte e vida Severina", que anuncia o nascimento do menino assim : " era como uma luz, numa sala negativa."
Beijos da Eliana

Anônimo disse...

Hello é a 1ª vez que vi o teu espaço online e gostei tanto!Espectacular Trabalho!
Adeus