sexta-feira, 1 de julho de 2011

O Genio



Depois de obter permissão do velho Mocho, fui ter com um senhor pensativo que passeava aqui por nossos campos. Ele tinha vindo de outra dimensão e esta seria a única oportunidade de conversar com um humano que já tinha transcendido nosso nível de energia.
-- Olá Einstein!
-- Olá Twitter!
-- Não sou o Twitter, sou o Ding, do Blog do Ding, aquele que tem pena mas não tem dó.
-- A piada é boa, achei que seria o Twitter, que é mais famoso, quem me entrevistaria, já que me disseram que eu iria conversar com um passarinho azul!
-- Esqueceram de dizer meu nome, mas...vamos lá?
-- Claro, simpático!
-- Obrigado Seu Gênio! Diga-me uma coisa, depois de ter elaborado aquela teoria, o Sr. já sabe com quantos paus se faz uma canoa?
-- Para isso, não precisaria ir tão longe, basta calcular o volume das águas e sua velocidade e verificar quanto de peso a canoa suportaria, adicionando um percentual para segurança, sopesada a resistência do material a ser empregado.
-- Puxa! E qual é a resposta?
-- Depende dos fatores que eu mencionei.
-- Ah! Mas que sucesso o Sr. teve nessa sua última vida, hein?
-- O único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário.
-- Nossa! Deve ser mesmo. O que o Sr. procurava afinal?
-- Quero conhecer os pensamentos de Deus...O resto é detalhe.
-- Puxa, só isso? Então o Sr....
-- Olha, passarinho, me chame "você", somos todos energia com formas de vibração diferentes, que tal?
-- Nossa, obrigado. Então você é um buscador dos Mistérios.
-- Sim, todos os seres são, apenas não se dão conta disso.
-- E o que é necessário pra dar conta?
-- Atenção! A atenção é o canal pelo qual a Energia Divina, através do pensamento e sentimento, flui para sua realização dirigida.
-- Nossa, que difícil! Eu ainda nem aprendi a pensar direito, mas sentir já sou bem capaz, quanto mais prestar atenção...
-- É, penoso, e você ainda é um animal, não tem ideia de como está atrasada a humanidade nesse aspecto, mas, devagar vamos avançando em nossa evolução.
-- Pra que pressa?
-- É, a compressa é inimiga da comperfeição. ho-ho-ho!
-- Kikiki! Você ri como o Papai Noel!
-- Papai Noel não existe!
-- Claro que existe, eu mesmo já o entrevistei quando estava no mundo da forma atômica.
-- Hummm, você deve ter entrevistado um mito.
-- Então, se é um mito, muita energia foi criada com atenção pelas crianças humanas, através do pensamento e do sentimento e a realização do Papai Noel fluiu...Não?
-- Eita passarinho! Agora entendi porque você disse que tem pena mas não tem dó!
-- Kikiki! Mas...o que você tem descoberto nessa busca de entender os pensamentos de Deus?
-- Deus não joga dados com o Universo, por exemplo.
-- Por que? O que isso significa?
-- Significa que o Universo é regido por leis e todos estamos sujeitos a essas leis, invariavelmente, não há caos, coincidências, tudo, tudo mesmo existe e acontece por uma ração.
-- Ração?
-- Razão, desculpe, sotaque!
-- Ah tá! Mas outro gênio, o Stephen Hawking, desmentiu você dizendo que "Não só Deus Joga Dados com o Universo, como joga em lugares onde não podemos ver o resultado."
-- Hohoho!! Esse menino tem humor. Mas ele está olhando só uma face da questão, eu acho.
-- E aquela da gravidade ser uma consequência da curvatura do espaço-tempo, hein? Pegou um monte de gente com "cara de ué", né?
-- Se pegou, mas depois que viram as explicações matemáticas...ficaram com mais "cara de ué" ainda, hohoho!
-- Kikiki. Aqui essa curvatura não pega, né?
-- Não, só na parte dos "vivos"! Hohoho!
-- Kikiki! Então, e no futuro, o que você disse da religião?
-- A religião do futuro será cósmica e transcenderá um Deus pessoal, evitando os dogmas e a teologia.
-- Nossa! Tá longe isso, hein?
-- A distinção entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente.
-- Tem gente que não vai gostar disso.
-- Ah, passarinho, se não gostar, me processe! Hohoho!
-- Você também não tinha dó!
-- Ding, é o seguinte: Duas coisas são infinitas: o Universo e a estupidez humana. Mas, no que respeita ao Universo, ainda não adquiri a certeza absoluta. Hohoho!!!
-- Nossa, quanta imaginação!
-- A imaginação é mais importante que a ciência, porque a ciência é limitada, ao passo que a imaginação abrange o mundo inteiro.
-- Então as crianças estão na frente!
-- Sempre, passarinho! Sempre!
-- Isso, então, corrobora a minha tese da existência do Papai Noel! Kikiki!
-- Chega! Você é demais pra mim! Hohoho!
-- Então, o que você achou daqui?
-- Muito interessante, eu fiquei aqui inconsciente por um tempo até que se desgastasse a matéria deste nível que eu carregava no meu ser, antes de ir para a outra dimensão, então tive que juntar um pouco dessa matéria, agora, para poder fazer uma investigação.
-- É mesmo, e que matéria é essa que seu ser trouxe aqui para desgastar?
-- Um pouco de sentimentos, uma pontinha de vaidade, essas coisas.
-- Ah, diz o Mocho que a vaidade é a última fronteira.
-- É um sábio esse Mocho!
-- Você, além de sábio é um gênio.
-- Hohoho! Passarinho, passarinho! Eu já me libertei disso. Títulos podem ser insignificantes.
-- Está bem, mas eu sou muito vaidoso!
-- Claro! Você é lindo! Hohoho!
-- Tá rindo do que?
-- Lá na frente você vai entender, nesse seu processo de humanização.
-- Não entendi nada!
-- Fique tranquilo. Tudo vai dar certo. Deus não joga dados!
-- Tá bom! Mas...já vai?
-- Vou, já colhi uns entendimentos por aqui. Obrigado pelo papo!
-- Obrigado Seu Gênio! Vá com Deus!
-- Vou e O deixo com você, porque Ele está em toda parte, está em tudo. Ele é!
-- É!

terça-feira, 31 de maio de 2011

A Festa


Hoje logo cedo eu voei para a árvore do Mocho porque, desde aquele dia em que ele leu a história, passou a ler outras para as aves daqui, agora com mais ouvintes. A notícia se espalhou e apareceram alguns gatos, cachorros, coelhos e outros bichos de estimação. Quem não gosta de histórias?
Quando eu cheguei, todo mundo já estava lá, olharam pra mim e seguiram o Mocho cantando:
-- Parabéns pra você! Nesta data querida! Muitas felicidades, muitas felicidades!
-- Uai, não rimou! Eu disse
-- Felicidades Ding! Gritaram todos!
-- Mas, por que? Eu sou de setembro!
-- Não, Ding, falou meu amigo Tico-tico, hoje faz um ano que você morreu e veio pra cá!
-- Ah, é! Nossa, nem me lembrava.

Em minha homenagem, o Mocho leu a MINHA história, e eu fiquei pensando: "Nossa, eu já esqueci disso tudo. Nem lembrava mais dos meus humanos."
Nesse momento, o Mocho que é muito sabido, parece que ouviu meus pensamentos e disse:
-- É que você anda muito ocupado por aqui, Ding, por isso não lembra dos seus humanos lá na Terra física. Mas seu humano número um lembra de você todos os dias, até colocou sua foto num cartão de plástico que ele sempre carrega com ele.
-- Puxa! E eu nem posso ir ver como ele está.
-- Mas pode ir nos sonhos dele, se quiser. Depois te ensino como fazer isso, agora deixe eu terminar a história.

Até parece que ele andou lendo meu blog, esse Mocho safado!

Depois da história, vieram todos me cumprimentar, até lambida eu tomei, que nojo! E os gatos fizeram uma apresentação da banda deles, cantando, ou melhor, miando juntos. Até que ficou legal, mas tinha um amarelo que era bem desafinado.
Teve brincadeiras durante a manhã toda e aquela balbúrdia atraiu a atenção até dos humanos, que passavam sem entender nada.

Finalmente, o Mocho me chamou, subimos a um galho bem alto e ele me explicou como funcionam os sonhos dos humanos e me deu uma porção de recomendações, acabei achando meio complicado.
-- Não se esqueça que, por causa do seu amor aos seus humanos e do amor deles por você é que você está aqui. Foi um passo muito importante. Daqui uns tempos, quando os pensamentos deles relacionados a você se gastarem na matéria deste lugar, você vai dormir e acordar num outro lugar, onde vai receber uma estrelinha, na verdade você já é essa estrela. Depois, passará, como estrela de volta ao mundo físico, carregando alguma matéria daqui e dacolá, para formar a nova estrutura com a qual você vai funcionar lá.
-- Puxa, que complicado, isso dói?
-- Não! Disse o Mocho rindo da minha ignorância.
-- E eu vou ter penas azuis ou verdes?
-- Creio que seu corpo talvez não tenha penas, mas vai ser o adequado para sua individualização.
-- Como assim?
-- Não sei, Ding, isso faz parte dos Mistérios e nem eu conheço.
-- To sentindo um aperto no peito. Será medo?
-- Não, talvez seja outro sentimento. Os humanos chamam de saudade.

Saí dali voando e fui pousar numa pedra de onde se vê longe, um vale bonito com um rio brilhante, que faiscava com a luz do sol. Fiquei lá, só olhando, até o sol descer, e meu aperto no peito foi passando, passando...

segunda-feira, 16 de maio de 2011

A AULA



O Dirigente dos passarinhos daqui é um mocho velho, um tipo de coruja grande que tem penas pontudas que parecem orelhas. Isso significa que ele está sempre atento ao que fazemos aqui e de vez em quando reúne a passarada e outras aves para uma aula.
Distante um voo pensamento fica uma construção redonda onde os humanos tem aulas, oferecidas por humanos mais experientes.
Fomos para lá, em bando.
O Mocho falou: Atenção todos, vamos assistir a uma parte da aula dos humanos, não quero ouvir um pio sequer!
Os humanos foram chegando e sentando em bancos que formavam círculos concêntricos, nós aves nos encarapitamos no muro, já que a construção é aberta, sem janelas e tem um muro baixo em toda a sua volta.
Depois de uma oração feita em grupo, os humanos ficaram quietos por um tempão, como se estivessem recebendo os benefícios dela. Tinha uma luz azul em toda a volta da sala, dentro e fora, muito bonita, como se fosse uma nuvem azul, mas transparente.
Olhei em volta e vi que todos estavam quietos, até os patos e os marrecos, geralmente muito barulhentos.
Nenhum pio! A ordem do nosso dirigente estava sendo cumprida

O professor começou a falar:
"Tudo é uma só substância da qual tudo foi criado e pela qual toda vida se sustém. Tudo tem vida e não há ponto algum onde não exista a vida. Toda coisa tem forma corpórea, através da qual o Espírito e a Vida tem que se expressar. Algumas formas são visíveis e outras invisíveis, mas todas são corpóreas."
"A substância mental está em todo lugar. Podemos considerá-la como se fora a parte mais elevada da energia, assim como a matéria é face mais grosseira da energia ou substância mental. Da mente emanou a energia e da energia, a matéria."
"As diferenças são:
1. Matéria... É o que usamos para vestir-nos.
2. Energia... É o que usamos para acionar e obrar.
3. Mente... É o que usamos para pensar.
4. Toda mente está em contato com toda outra mente e com a Mente Universal, da qual todas as mentes são partes.
5. O Universo é uma substância pensante.
6. O pensamento pode variar como varia a forma corpórea, desde o átomo até o sol.
7. A forma de pensamento mais perfeita de que temos conhecimento é a do homem.
Logo: Hoje somos o que temos pensado sempre."

Olhei para um sanhaço que estava com os olhos fixos no professor e o bico entreaberto, quase babando e falei:
-- Num tendi nada!
-- Shhhhh! Fez o Mocho. Depois, fez o sinal que já tínhamos combinado e fomos todos voando para debaixo de uma árvore.
Lá, ele disse:
-- Ding! Eu falei nenhum pio e você piou! Por isso, hoje todos só vão ficar com isso o que foi dado.
-- Mas eu não entendi mesmo, repliquei.
-- Não importa! Às vezes, ouvimos ou presenciamos coisas que não entendemos e, mais tarde, isso vai ter um significado para nós.
-- Hoje, continuou o Mocho, pigarreando, vimos um pouco da aula dos humanos, talvez um dia vocês venham a entender isso, talvez na forma de uma lembrança, ou de um pensamento.
-- O que é pensamento? Perguntou um papagaio.
-- É a ação da energia através de um instrumento que nós, animais, ainda não temos desenvolvido totalmente, nós estamos desenvolvendo as emoções, mas uma grande parte de nós, aqui presentes, estivemos envolvidos pela energia mais elevada que é a substância mental quando interagimos com os humanos. Respondeu o Mocho.
-- Não entendi nada! Falei, de novo.
-- Não importa, como eu disse. Um dia tudo isso vai voltar quando você desenvolver o instrumento necessário para responder a esse grau de energia. Respondeu o Mocho.
-- Veja bem, continuou. Quando você quer voar aqui, de um ponto ao outro, o que faz?
-- Força! Respondi
-- Sim, mas aaaaantes disso?
-- Não sei, dá uma vontade de estar lá para onde eu quero ir voando. Respondi
-- Isso! Isso é um pensamento na sua forma mais primitiva. Isso é tudo o que você pode fazer agora, mas da próxima vez, tente saber, ter consciência do que está fazendo.
-- Como o Fernão Capelo Gaivota?
-- Sim, essa criação fantástica de um ser humano explica bem quando um ser começa a evoluir, deixar de buscar apenas a satisfação material das suas necessidades básicas, comida, por exemplo e começa a descobrir que voa, que pode voar e isso lhe dará condições de juntar substância mental.
-- Nossa! Exclamaram alguns, outros só ficaram olhando.
-- Como é essa história, velho Mocho? Perguntou um pica-pau.
-- Eu vou ler pra vocês, deixa eu pegar meus óculos e o livro.

E ficamos todos embevecidos com a leitura da história.
Eu, que já sabia um pouco do livro, fiquei distraído, lembrando das palavras do professor humano e, de vez em quando soltava sem querer, um "não entendi nada"
-- Não entendeu o que? Perguntava o Mocho enquanto dezenas de olhinhos viravam pra mim com reprovação.
-- Não...continue, por favor?! Eu dizia todas as vezes enquanto sorria por dentro...
Eu tenho pena, mas não tenho dó! kikiki!